Com apenas 18 anos, Hugo Cavaco esteve na prova de 400m dos Jogos Paralímpicos de 2012, em Londres, onde chegou a estar apurado para a final – mas tiraram-lhe o doce da boca. “Foi uma história estranha, no mínimo. Fiquei em nono lugar, mas o atleta que estava antes de mim, um norte-americano [Markeith Price], supostamente pisou a linha. Vendo as regras, não podemos pisar a linha de dentro se for em curva, mas se pisarmos a linha de fora ou de dentro em recta podemos fazê-lo desde que não interfira com a corrida do adversário. O atleta norte-americano foi desqualificado, mas fizeram a reclamação e ganharam. Foi isso que me tirou da final”, pormenoriza Hugo Cavaco, que ainda assim viu a riqueza da experiência mitigar o desgosto de não disputar a final.
“O facto de estar lá é maravilhoso. Estar num estádio com 90 mil pessoas na bancada a vibrarem é mágico. Na minha prova, os 400m, damos uma volta completa à pista e as pessoas todas vão gritando à medida que passamos por elas. Aquele barulho, aquela vibração... até me estou a arrepiar”, diz o atleta de 22 anos que se transfere da Luz para Alvalade, visivelmente emocionado com a recordação do momento mais alto da sua ainda curta carreira, iniciada em 2010, através de um convite de um amigo que integrava a Federação de Atletismo para participar nos Jogos da CPLP, em Moçambique. “Tive apenas um mês de preparação específica para essa prova e ainda assim fiquei em primeiro nos 100m e nos 200m e em segundo nos 400m”, recorda.
Antes do atletismo, era o goalball que ocupava todos os espaços do seu amor pelo desporto. Dedicou-se por três anos à modalidade, primeiro na ACAPO, depois no CAC, onde foi campeão nacional. E chegou a contagiar o pai que, embora não seja invisual, passou a praticar a modalidade criada especialmente para pessoas com deficiência visual. “Ele ia buscar-me e levar-me aos treinos e assistia sempre a uma parte. Entretanto, começou a querer experimentar. Um dia levou o equipamento e foi até hoje”.
Tal como os restantes colegas, as baterias estão já apontadas à meta Rio 2016. “É um objectivo fundamental, está na lista de desejos de qualquer atleta. Estou a esforçar-me ao máximo, só espero não ter surpresas desagradáveis em termos de lesões. Em condições normais, se continuar o meu trabalho e der o litro, estou lá”, garante o atleta, estudante de gestão de redes e sistemas informáticos, na véspera de partir para o Qatar, para disputar o Mundial, onde pode atingir já o objectivo – todos os reforços ‘leoninos’ vão correr nesta prova.