Sílvia começou na ginástica rítmica aos sete anos, mas foram os trampolins que lhe aceleraram o coração. Tinha acabado de entrar na Associação Académica de Espinho por intermédio de uma captação na Escola n.º 1 de Espinho, onde estudava, quando, pela primeira vez, viu crianças como ela a saltar nos trampolins. “Parecia que estavam a voar”, diz. A imagem colou-se à sua cabeça e teve de a perseguir, iniciando uma carreira que a catapultou para o sucesso e que elevou ainda mais o nome do Sporting na ginástica, modalidade fundadora do Clube. Pelo meio, ainda fez ballet, natação e praticou clarinete no Conservatório de Música no Porto até aos 13 anos, influenciada pelos pais, ambos músicos – a mãe flautista e o pai clarinetista e maestro.
Sílvia já perdeu a conta às medalhas que conquistou ao longo da carreira. “Há uns anos eram mais de 100”, diz. As mais importantes estão guardadas num expositor em casa – como as de campeã (2005) e vice-campeã da Europa (2004 e 2011), as oito como campeã nacional ou o bronze nos World Games de 2013, a mais importante prova no mundo do duplo mini-trampolim.
Determinada como é, conseguiu terminar a licenciatura em Economia e o mestrado em Gestão, conciliando os deveres académicos com as exigências dos treinos – que lhe ocupam, em média, três horas diárias, cinco dias por semana. Mas mesmo quando não treina no Clube, fá-lo por conta própria: corre todas as manhãs, anda de bicicleta e ainda frequenta o ginásio. “Os atletas têm de ser muito disciplinados e organizados para caber tudo no dia. Não há horas mortas e quando se faz uma coisa, faz-se mesmo”.
Tal como a vida em geral, também a carreira de um atleta é feita de escolhas. A última grande escolha de Sílvia Saiote aconteceu no Europeu de trampolins de 2014, em Guimarães – seria a sua última prova no duplo mini-trampolim, a disciplina que mais a celebrizou no mundo da ginástica. A escolha foi feita com uma meta na cabeça: Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Como duplo mini não é disciplina olímpica, Sílvia optou por se dedicar apenas ao trampolim para poder cumprir o sonho de estar na maior prova desportiva à escala mundial. Claro que antes da retirada fez história: foi campeã europeia de duplo mini-trampolim por equipas, medalha de bronze individual no mesmo aparelho e assegurou, por equipas, um apuramento histórico para a final de trampolim – nunca uma equipa feminina sénior havia conseguido tal feito.
No final de 2014, acrescentou mais uma valência às que já tinha – e títulos, claro. Formando dupla de trampolim sincronizado com Beatriz Martins, foi ouro na Taça do Mundo de Loulé, prata na Taça do Mundo de Minsk (Bielorrússia) uma semana depois e venceu também o circuito de Taças do Mundo da Federação Internacional de Ginástica (FIG). “Sabia que ia ficar com muita energia, depois de deixar o duplo mini, para só fazer trampolim individual. Por isso chateei a Beatriz para se juntar a mim em sincronizado, para ganhar experiência, técnica e nome junto dos juízes que nos pontuam no trampolim individual”, explica a atleta ‘leonina’.