João Costa tem uma vitrine na sala da sua casa, em Paião, perto da Figueira da Foz. Nela não estão expostos ‘bibelots’, nem loiça, nem molduras com rostos felizes, mas sim as medalhas de 25 anos de tiro – como a sua primeira prata em Mundiais, alcançada em 2014, em Granada, as dez em Taças do Mundo ou as seis em Europeus, a última das quais o ouro conquistado em 2015. Com um palmarés que não pára de crescer de dia para dia, o atirador ‘leonino’ era já, no início do ano, o atleta português com mais títulos nacionais conquistados, 60, destronando a também atleta ‘verde e branca’ Teresa Machado que, com 53, detinha o recorde anterior.
Militar de profissão, João Costa entrou para a Força Aérea aos 20 anos, seguindo as pisadas do pai. Foi lá que, durante a recruta, descobriu a paixão pelo tiro. Não perdeu tempo. Sabendo que a Naval 1.º de Maio tinha uma secção dedicada à modalidade, inscreveu-se. Foi o início de um casamento de mais de 20 anos, interrompido em 2013 pela crise vivida pelo clube. “A Naval estava a morrer e eu, antecipando o funeral, resolvi sair. Já conhecia, das provas, atletas e dirigentes da secção de tiro do Sporting e sempre tivemos um bom relacionamento. Estava disponível e o Sporting avançou”, explica o atirador, que não tem dúvidas em afirmar que a passagem para o Clube de Alvalade foi “mais um tiro certeiro” na sua vida. “O Sporting investe mais em tiro num ano do que a Naval nos 20 anos em que lá estive”, diz.
Treinador, João nunca teve. Treina em casa, sozinho, com pistola de pressão de ar numa carreira de tiro de 10 metros que montou na cave da sua casa. “A pistola de pressão de ar é a base do tiro, porque nos dá a resistência física no braço, o controle de gatilho e a pontaria”, explica o atirador, que trabalha das 9h às 17h na base de Monte Real, no laboratório de metrologia, onde se encarrega de calibrar instrumentos de medição dos aviões. Quando chega a casa, despe o fato de militar e veste o de atirador. “Numa situação normal, treino das 19h até às 20h ou 21h, depende da antecedência a que estou das provas. Se estiver próximo de um Mundial, treino cerca de duas, três semanas antes. Também aproveito os estágios das provas para treinar”, conta o recordista nacional nas disciplinas de Pistola de Ar Comprimido, Pistola 50 metros, Pistola Standard, Pistola Grosso Calibre e Pistola Pólvora Negra. “O método de treino que utilizo é treinar com gosto. É isso que me faz treinar. Em competição, sendo a concentração um factor fundamental, a descontracção é essencial”, revela.
O atleta, que tem na habilidade natural para atirar, no domínio nervoso e na forte atitude psicológica as suas armas secretas, esteve em todos os Jogos Olímpicos desde 2000 – foi sétimo em Pistola de Ar Comprimido em Sydney e em Londres. “Lembro-me de encontrar os tenistas Gustavo Kuerten e Rafael Nadal, de jantar na mesa ao lado da Carolina do Mónaco e de ver atletas conhecidos a fugir, disfarçados para não serem reconhecidos. Vê-se de tudo nos Jogos Olímpicos”, conta o atirador, que já faz pontaria à sua quinta participação consecutiva na maior prova do desporto à escala global, onde será o atleta mais velho da comitiva lusa, “mais velho até do que o chefe de missão”, diz. “Significa muito para mim esta presença, são 16 anos no topo”.